É importante ter uma raiz de Axé?

O tema de que todo mundo de Axé tem uma raiz (família de Axé) é importante, principalmente na questão de que toda linhagem de Axé tem suas origens, exatamente como em uma família consanguínea. Nas famílias dos Candomblés de Ketu tem as Casas descendentes do Terreiro da Casa Branca, do Opo Afonjá, do Gantois, da Casa de Oxumarê, da Muritiba, Bamgbose, do Terreiro do Alaketu, Opo Aganju, entre muitas outras casas antigas da Bahia e do Rio de Janeiro. São muito conhecidas porque foram as primeiras na história da religião no Brasil. É importante salientar que tem Terreiros, mais abertos e flexíveis para divulgação além de possuírem membros que são figuras públicas e/ou outros relacionados com setores da sociedade como imprensa e o meio artístico, com isso, ganham mais notoriedade devido a matérias, entrevistas jornalísticas e pela divulgação abrangente dos calendários de suas atividades, também tem gestões em que os sacerdotes são mais abertos ao público geral, e claro, devido à longa história que o Terreiro construiu na comunidade, são mais consultados do que os outros, existem os Terreiros que são mais ativos e organizados no que tange a divulgação e marketing porque se importam com a visibilidade da Casa/Axé, e francamente não vejo problema desde que não extrapolem os limites do sagrado. Pertencer a uma raiz não é questão de status, de elitizar o nome do Axé perante a comunidade.

A questão é que como em uma família consanguínea existem os descendentes que estão distantes das matrizes, muitos deles nem sabem as suas raízes, a tradição é passada entre eles sem saber muito sobre a origem do Axé, não é por isso que não tenham conhecimento e capacidade para praticarem a religião. As razões desse distanciamento podem ser por vontade dos dirigentes, por falta de recursos financeiros, por acharem difícil o acesso e outros. Quanto mais distante das matrizes, mais discrepantes podem ficar as tradições do Axé, se a casa do filho não é igual a da mãe/pai imagina do tataraneto(a) para o tataravô(ó), particularmente não vejo essas diferenças peculiares totalmente ruins, até porque, cada Terreiro tem seus fundamentos com os Orixás consagrados para a Casa, portanto não será igual a nenhuma outra Casa, no entanto, se destoar muito da tradição de Candomblé que a Casa cultua as tradições daquela nação vão se perdendo fugindo muito da realidade, é quando, por exemplo, uma Casa que não tenha nada com alguma relação com a nação ou a linhagem, como: roupas, paramentos dos Orixás, os cantos, etc.

Ser descendente de um Axé não é o mesmo que ser do referido Axé, ser descendente é seguir as tradições do Axé matriz, é tentar aproximar ao máximo a ritualística do Axé, e claro, sempre que possível, visitar e participar das funções na Casa matriz. Infelizmente tem pessoas que usam o nome de Casas famosas a título de vaidade e para ganhar mais credibilidade, o que é uma grande bobagem porque o que importa é a Casa de Axé onde a pessoa pertence, independente qual seja a sua raiz.

Muitas vezes algumas pessoas procuram um "grande" Axé porque querem que seu Orixá seja bem cuidado, quer pertencer a uma família de Axé reconhecida, já tentaram outros caminhos e não se acertaram, querem respostas que ainda não encontraram, são inúmeras razões que podem levar alguém buscar suas origens ou mesmo procurar outro Axé. Lembro que não são apenas os "famosos" que possuem Axé, muitos anônimos são tão ou mais competentes, além de serem pessoas ótimas no caráter, no carinho e na amizade. O que realmente importa é o que o seu Axé lhe proporciona, se é famoso, conhecido, se tem 200 ou 20 anos, não é relevante para o Orixá, tem que ter conhecimento, fé, amor pelos Orixás, continuidade, respeito e manter as tradições do Candomblé.

Axé não é marca de grife e não deve ser produto de vaidade, não pode ser usado para envaidecer pessoas, não é porque alguém pertence ou é descendente de um grande Axé que é mais ou maior do que ninguém, grandes são Olodumare e Orixá. As tradições precisam ser preservadas, ter uma raiz de Axé é importante e fundamental para o funcionamento de uma Casa, porém conheci muitos anônimos de muita grandeza e generosidade. Procurar a história do Axé, seguir as tradições da nação guardando as particularidades de cada Terreiro, respeitar e amar a Casa à qual pertence, não importando o quanto ela é conhecida. Manter as tradições do Candomblé é preservar nossa cultura religiosa.

Gbogbo Àse

Marcos de Ode (Ode Kòbáyo)

Foto: Anacostia Museum - Família de Santo em 1940 -

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