Sabor e Cheiro de Terreiro

Do perfume das folhas maceradas de macassá ao cheiro dos acarás fritos no dendê, tem o gosto suave do aberém e o sabor marcante de um cabrito assado. É no cotidiano do Terreiro que nos deliciamos da singular experiência das folhas aromáticas e do sabor dos inúmeros pratos deliciosos e cheios de histórias e Axé.

Cheiro e sabor de Terreiro são inconfundíveis, realmente nossos ancestrais deixaram uma herança riquíssima que completa ritualisticamente a religião dos Orixás no Brasil.

O que seria de uma Casa de Candomblé sem uma folha de manjericão, de colônia, sem um peregum, sem um abadó bem cozido em panela grande? O vapor do fogão do Terreiro entra em nossa alma e fica impregnado para sempre.

O sassanhe das folhas para os banhos e sacralização de objetos pode até passar desapercebido em um dia de função na Roça, mas a gente sabe que sem isso não dá para ter Candomblé, as folhas maceradas em água da fonte vão para o porrão e dali banham as filhas e filhos de santo ritualisticamente com uma energia impressionante, depois saem para sacralizar os objetos de culto para que possam receber Axé.

Enquanto isso na cozinha o fogo dá vida aos alimentos sagrados, que podem ser, para passar em nossos corpos e equilibrar nosso ser elementar, podem encher as vasilhas de barro e louça para ofertar a nossos Deuses, ou até, para ser envolvidos em folha verde de bananeira queimada e virar um poderoso acaça.

O aroma da água de cheiro que vai ser salpicada no chão do Terreiro para purificar o ambiente, o cheiro da goma das roupas alvas que serão vestidas a noite, o cheiro da alfazema que faz a alma sorrir. Cheiro e gosto de Terreiro são experiências que só quando a gente frequenta pode sentir e levar para toda vida.

Quem é de Terreiro, flutua quando Oxum passa por nós e deixa o cheiro do manjericão fresco e de flor de alfazema - sou de antes dos vidros de Boticário borrifando Oxum no barracão -, com a panela de Ipeté no Ori, que também nos presenteia com um aroma que enche nossa boca de água.

O cheiro doce das frutas quando é dia de Oxossi, o cheiro quente do amalá de Xangô, o aroma sedoso dos acarás de Iansã e o cheiro único dos duburus do Rei estourados em areia fina de praia ameniza nossas aflições, o sabor marcante de um aluá, o gosto leve de um mungunzá entre tantos outros sabores e aromas que faz o Terreiro ser uma experiência extremamente deliciosa, o Axé está também no sabor e no cheiro da Roça. Candomblé é vivência, não experimentamos nada disso em internet, apostilas e livros, a literatura é imprescindível para o nosso crescimento, mas o cotidiano do Candomblé é vital para nossa existência como Povo do Santo.

Marcos (Ode Kobayò)

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