Filmagens e fotografias no Candomblé

O Candomblé é uma religião iniciática e com diversos procedimentos ritualísticos, assim como outras religiões, existem o que pode ser visto para o público geral e o que é vetado para os olhos dos não iniciados no segredo (Awo). Pierre Verger foi um dos primeiros a fotografar e publicar em livros, fotos de momentos reservados apenas aos iniciados, Verger mais tarde se iniciou no Orixá, na época, entre as décadas de 30 e 40, havia raros registros em fotos e filmagens do Candomblé, muitas como registro histórico, algumas com finalidade editorial, outras para estudos e pesquisas etc. Claro que na época não se tinha a facilidade de hoje de fotografar e filmar, mas grande parte dos Terreiros proibiam de fazer, até hoje muitos não permitem a não ser pessoas autorizadas e para registrar apenas momentos autorizados. Mas, a maioria dos Terreiros não só permitem fotos/filmagens como contratam empresas especializadas para tal, é uma liberdade que cada dirigente de Terreiro tem, afinal a casa é dele e as regras ele faz. Ter um registro de um Candomblé, de uma saída de Santo etc. é uma coisa que muitos desejam e não é ruim, imagina com o passar dos anos a gente reviver um momento através de uma filmagem ou fotos? Quando a internet se popularizou imagens referentes ao Candomblé foram ficando cada vez mais públicas, hoje temos uma avalanche de vídeos, fotos e até transmissões ao vivo de Candomblés, eu particularmente até certo ponto não vejo nenhum problema, funciona como divulgação e até desmistificação da religião, o problema é a exposição de cerimonias que não são, e não devem ser públicas, a exagerada exposição de Orixás manifestados, saídas de Yawos, imagens de quartos de Santo (Ilé Òrìsà), fotos e imagens de ebós prontos, fotos de obrigações que são reservadas, seja para auto promoção, seja pela inocência do registro essas imagens/fotos não devem sequer serem feitas em minha opinião, quase todas as religiões tem seus momentos de sacralização que são reservados, ou seja, apenas quem participa assiste e o registro deve ficar na memória.

Assim como postam um prato de comida nas redes sociais algumas pessoas estão postando tudo que acontece dentro de um Terreiro, é preciso preservar e respeitar o sagrado, a cantiga de Oya (Orin) que diz que "As trevas cobrem nossos olhos e os não iniciados no segredo não pode conhecer o mistério" Biri-biri bò wón lójú, ogbéri ko mo mariwo!. Separar o que é público e o que não é público, mostrar a nossa cultura religiosa é benéfico, porém com cautela, sem vulgarizar e macular o nosso sagrado. Uma coisa é registro, é um editorial e é uma publicação cultural, outra é a irresponsabilidade de veicular a esmo o Awo do Orixá. Usar o bom senso é sempre uma ótima solução para qualquer dilema. O Candomblé de modo geral não quer se esconder, mas a preservação do mistério é fundamental para a preservação do nosso sagrado. Guardar para recordação e como registro algumas fotos de obrigações (Ajoduns), de Kelê não é ruim, mas em minha opinião não precisam ser publicadas. Entender e respeitar os limites do sagrado sempre.

Axé

Marcos de Ode (Ode Kobayò)

Foto: Getty Imagens

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