Porque sou a favor dos 21 dias para iniciação


Esse é mais um tema que anda causando polêmica, e não deveria, mas como cada interessado defende o seu ponto de vista, defenderei o meu. Não vou falar de tradições de Axé, até porque, sou autorizado a falar apenas o Axé do meu Orixá.

Vinte e um dias são três semanas, tempo que julgo ser bom para uma iniciação, talvez não o ideal. A vida moderna está imediatista e acelerada e parece que essa necessidade chegou também nos Terreiros, até porque, Terreiros são formados por pessoas que vivem na modernidade, o que de forma alguma é ruim.

O período de iniciação foi ao longo dos anos encolhendo, chegamos em torno de 21 dias ou ainda 17 dias, alguns estão achando muito tempo, "Não precisa esse exagero todo!" - No meu ponto de vista acho que não é exagero e vou explicar.

Sem entrar em detalhes e segredos de uma iniciação e considerando que cada iniciação tem as suas necessidades específicas, vamos falar do que é basicamente necessário. Sabemos que precisamos de pelo menos 24 horas de descanso para que o neófito possa começar a se desvincular do mundo, é como um dia de reflexão, um tempo para que ele possa ir em busca do sagrado, depois temos os diversos ebós que todo mundo precisa fazer, é o começo das obrigações. Após os ebós, que eu acho que são no mínimo 3 dias, temos o bori (Ebori) que vamos dedicar entre preparação e o tempo que fica deitado na eni (esteira), o término, banhos litúrgicos e estar pronto para a nova etapa das obrigações, são mais 2 dias, o próximo passo, é resumidamente ir para a cachoeira para mais ebós e rituais de iniciação, entre o preparo e o ato temos mais 1 dia, não estamos contando os imprevistos e as particularidades de cada pessoa, retornando dessa obrigação o neófito deve descansar o resto do dia, assim entramos no sétimo dia de obrigações, vamos para o Odae (em algumas tradições) mais 1 dia, já estamos entre o oitavo e nono dia de obrigação. Após o Odae o neófito é definitivamente recolhido para o quarto (Hunko) para a próxima etapa da iniciação, aproximadamente no décimo dia do processo iniciáticos é feito o primeiro "perfuré" (pião), o primeiro Oṣù, a partir daí, serão mais 6 dias dedicados a esse fundamento, nesse período outras obrigações serão realizadas, assim chegaremos aos 15 dias, aproximadamente, de rituais iniciáticos, o último Oṣù é o dia do Orukó, algumas casas realizam festas públicas, outras apenas realizam essa cerimonia internamente. Lembrando que as sextas-feiras não se faz nada no Terreiro durante o dia todo, como não fiz uma sequência de dias da semana, vamos considerar mais 2 ou 3 dias de descanso, que na verdade são para se dedicar a diversas outras atividades e ensinamentos para o neófito, lá se vão mais cerca de 17 dias. Após o dia do Orukó, tendo festa ou não, as obrigações continuam no dia seguinte, que são: o afeṣú e o orupin do Ìyàwó ou do barco, e aí temos mais 1 dia, as horas passam e entramos no 18º dia, aí tem mais alguns rituais que vai depender da tradição de cada casa, mas seguramente será mais 1 dia de obrigações. Se tudo correr dentro da normalidade temos então cerca de 19 dias até agora, geralmente o Ìyàwó fica na casa mais alguns dias dedicados a Òṣàálá (Oxalá), como muitos Terreiros tem tradição de fazer a "Saída de Ìyàwó" aos sábados, geralmente contam a semana de Òṣàálá até o próximo final de semana, que certamente passa dos 21 dias.

Assim, superficialmente eu descrevi como preciso de 3 semanas para iniciar uma pessoa na minha tradição (Ketu). Respeito quem faz diferente e não questiono, mas no nosso caso precisamos desse tempo. Sabemos que hoje a vida está muito diferente e por isso que enxugamos e chegamos nesse tempo de iniciação. Tempo deve ser respeitado, não fazemos nossas refeições uma em cima da outra, precisamos digerir cada uma, e para isso precisamos do tempo certo.

Gbogbo Àṣe

Marcos de Ọdẹ (Ode Kòbáyo)

Foto: internet

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