Quem pode ser do Santo?


Quero tocar em um assunto muito rotineiro na vida dos Terreiros pelo Brasil a fora, uma pergunta que muitas pessoas me fazem e dou sempre a mesma resposta. Quem pode e quem não pode ser do Santo? "Ser do Santo" para o povo de Terreiro é ser de Orixá, é pertencer a religião do Candomblé.
Para começar, vou me basear na cosmogonia dos Orixás, na nossa cosmovisão de mundo. Se Olodumare criou o mundo, e acreditamos também que ele criou o homem, então, todos nós, somos criação de Olodumare, pretos, brancos, amarelos, vermelhos... todos. Não vou esmiuçar a criação do mundo com seus mitos nagôs, para ir direto ao que me propus escrever.

O Candomblé é uma religião que abraça pessoas de diversas camadas da sociedade, euro-brasileiros, afros-descendentes, descendentes de povos indígenas e até estrangeiros de diversos cantos do mundo, que são iniciados no Candomblé no Brasil e nos Terreiros que existem no exterior. Muitas pessoas são simpáticas a nossa religião e encontram coerência na nossa cosmovisão, portanto não querem ou não precisam ser iniciadas (Fazer o Santo), elas podem frequentar os Terreiros como simpatizantes, serem fiéis aos Orixás e amigas dos membros do Axé (Terreiro), podem participar da rotina do lado de fora, que é até onde elas podem transitar, já que os segredos (Awo) do Candomblé são vetados aos não iniciados. Essas pessoas que podem ou não seu um Abiã (Quem ainda não foi iniciado, mas já fez obrigação de Obi ou Ebori. O Abiã usa uma conta de Oxalá e roupas brancas de algodão) dão brilho e são muito importantes no cotidiano de um Terreiro, porque são geralmente voluntárias para diversas atividades que são primordiais para o funcionamento do Axé, elas não são tratadas como clientes e sim como amigos da Casa de Axé, elas ajudam com serviços de Rua, com as questões institucionais do Terreiro, na manutenção das instalações da Casa e tantas outras ações que esses nossos amigos desempenham. Talvez elas nem saibam quais são os seus Orixás de cabeça (Olori), evidentemente que elas têm Orixá, mas sabemos que em muitos casos isso irá se confirmar ao longo do tempo e até mesmo apenas no roncó (quarto fechado que representa o ventre da Casa de Axé) e dão contribuições vitais para a comunidade do Santo ao qual são amigas e simpáticas. Como o próprio nome diz, são pessoas amigas e devem ser tratadas com carinho, com zelo, educação e receberem toda nossa gratidão. Para mim, elas são do Santo, elas são parte do Terreiro.

Um Terreiro é formado por pessoas de várias classes sociais e culturais, nem preciso dizer que todas são fundamentais para a comunidade. Pretos, brancos, amarelos, miscigenados de todos os povos, todos sem exceção têm Orixá, o que vai levar uma pessoa ser iniciada é a vontade do Orixá aliada com a vontade do Ori dela de dar um passo tão sério na vida que é a iniciação ao Candomblé. Não dá para determinar quanto tempo uma pessoa vai levar para fazer o Santo, já que essa decisão não depende exclusivamente de nos e sim dos Orixás, a minha sugestão é que conviva no Axé, observe, sinta a energia da Casa, das pessoas antes de marcar uma data para recolher para o Santo.

Quem pode ser do Santo? Eu digo que todos nos podemos ser do Santo porque já somos. Pode ser um Elegun (Aquele que incorpora Orixá), um Oloye (Cargo com Orixá), um Abiã ou um simpatizante o Orixá existe em todos, claro, que aos iniciados cabem conduzir a parte ritualística.

(Foto: internet)

Axé

Marcos de Ode (Ode Kobayò)

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Modúpé pela sua participação. Olorum Agbo Ato. Que Oxalá lhe de boa sorte.

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