Não existe sangue verde.

Há uns anos atrás foi escrito em um livro que existem vários tipos de sangue, o vermelho, o branco, o azul e o vermelho. No caso do verde por exemplo, que seria a seiva das folhas (que mesmo servindo para levar para a planta nutrientes, oxigênio, água e gás carbônico), não existe o mesmo valor ritual do Ejè (sangue), pode até ter uma interpretação poética dizer que o sangue das folhas é a seiva, mas para o Candomblé não, a seiva extraída das folhas/ervas tem uma outra significação que não é a mesma dos sacrifícios ou sacralização do Orô (imolação dos animais), assim como a líquido branco dos Igbis (Caracóis), também chamado de Omi-Erò não tem o mesmo valor do Ejè, possui outras propriedades para o culto de suma importância, porém, mesmo para os Orixás funfuns ele não substitui o Ejè na essência do rito do Orô.

O sacrifício dos animais tão polêmicos no Candomblé, não pode ser substituído por outro procedimento por diversas razões, o sangue (Ejè) dado por Olodumare é elemento único e portador do Axé vital para os animais, inclusive nós humanos, é uma delas. O que se inicia como uma violência vai se transformando em um ato sagrado e fundamental para todo o Egbè (sociedade do Terreiro). O ato de matar (Oro) é de responsabilidade de Oxossi para a nossa tradição, mesmo tendo outros Orixás que possuam essa atribuição como Ogum e Omulu é Oxossi que tem a responsabilidade de trazer o alimento (...), o Oro termina na maioria das vezes com o nosso Xirê, que é muito mais do que um mero folclore, o Xirê é a continuação do ato que se iniciou como um ato de violência e terminou com uma comemoração/comunhão.

O Oro não é meramente para "alimentar" o Igbà/Orixá de Ejè toda a ritualística que envolve o Oro tem uma significação importante e vital para o culto aos Orixás, esse procedimento ritual não pode ser substituído por outros, principalmente porque não existem elementos que substituam, como a seiva das plantas por exemplo, que são tão fundamentais quanto, mas não possuem a mesma significação.

No Candomblé existem inúmeros pratos com vegetais e grãos que são transformados em Axé, e não se inicia Orixá sem folhas, mas também sem a sacralização através do sacrifício o Candomblé não seria possível enquanto religião, porque para o seu culto todo conjunto ritualístico se faz fundamental, e com esse entendimento o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que o sacrifício de animais no Candomblé é constitucional e não é compreendido como maus tratos aos mesmos.

Assim como um prato de acará, de ebô, de feijão cozido... a carne do animal é alimento para toda comunidade de Terreiro e seus arredores, o consumo da carne (salvo os Axés) é voluntário até para os membros do Terreiro, porém o Oro, que compreende o sacrifício animal não, por ser primordial em toda sua essência o Ejè não pode ser substituído por nenhum outro elemento. Lembro que essa é uma visão do segmento de Candomblé ao qual eu pertenço e as opinião desse texto é exclusivamente minha.

Axé

Marcos de Ode (Ode Kobayò)

Foto: internet

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