O transe no Candomblé
O transe no Orixá acontece seguindo uma ordem ritualística ou involuntariamente. A manifestação é vista como um estado de sagrado onde o ancestral divinizado do filho de santo se manifesta. O filho ou filha de santo quando manifestado descreve diferentes experiências e sensações, são: tremores, mudanças de temperatura corporal, tonturas, alterações de pressão arterial, perda de noção de espaço, visão embaralhada entre dezenas de outras sensações. Cada filho de Orixá é um ser individual, e cada Orixá (ancestral) tem seus elementos. Somos compostos dos 4 elementos (terra, fogo, água e ar) e são esses ingredientes, que existem em tudo que há no universo, mais uma série de fatores, que entram em sinergia com a história ancestral de cada Elegun fazendo o transe acontecer com pouca ou alta frequência.
Existem preparações importantes para que o fenômeno do transe seja buscado e programado dentro da ritualística. São nos banhos de folhas, nos alimentos, na abstinência, no período de horas em que se ficou dentro do Terreiro que um filho ou filha de santo ficam mais suscetíveis a incorporar em seus Orixás, afinal, nosso corpo é a casa do sagrado.
Sempre ouvimos daqui e dali que o transe de tal pessoa é uma farsa, ou, que quando uma pessoa volta do transe não se lembra de nada, pois foi tomado completamente por sua divindade ou entidade, minha ideia não é entrar nessa premissa e sim no fenômeno do transe. Muitas pessoas ficam desacreditadas talvez por criarem uma expectativa que não está de acordo com o que é o transe e o porque do transe, alias isso eu também não saberia responder.
Existe mesmo possibilidade de um ser metafísico tomar um corpo vivo físico? Penso que se olharmos pelo lado de que a manifestação venha de dentro, que aflore o divino em seus Eleguns e que por alguns momentos ou até por dias o sagrado fica presente, é uma sintonia com o tempo, o que vem da história mais remota de nossa existência se manifesta e interage com todos os membros do Terreiro e visitantes presentes. No Candomblé a interpretação do fenômeno do transe é peculiar e lidamos no dia a dia com ele com interpretação diferente de outras religiões. No caso dos catiços, caboclos, encantados que são entidades espirituais que possuem seus cavalos (eleguns) existe um outro raciocínio para tal fenômeno.
O que faz os eleguns estarem sujeito ao transe e a possessão e os outros membros do Candomblé não? Creio que existam elementos químicos/psíquicos que fazem com que os eleguns (cavalos) sintonizem as frequências para que se estabeleça essa ponte. Quero lembrar que são opiniões pessoais de minha vivência de Terreiro e não são baseadas em estudos científicos ou pesquisas.
No cotidiano do Candomblé quando estou diante de um Omo Orixá manifestado, não importa o tempo de iniciado ou o cargo eu me comporto diante do sagrado, a mim não importa se o transe é real ou não, o que importa é o estado sacro do momento e em nome do sagrado que eu acredito eu não questiono veracidade de transe.
(Foto internet)
Axé
Marcos de Ode (Ode Kobayò)
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Modúpé pela sua participação. Olorum Agbo Ato. Que Oxalá lhe de boa sorte.