Porque o Candomblé virou uma religião tão cara?

Não é de hoje que ouço reclamações de várias pessoas sobre os valores cobrados no Candomblé. Os anos foram passando e o Candomblé ficando cada vez mais caro. Festas com buffet, segurança de terno preto na porta, festas decoradas que mais lembram um casamento, mesas postas como manda a etiqueta, empresas de filmagens cada vez mais especializadas.

Os mariwos, e folhas de colônias deram lugar aos ricos arranjos de flores, agora temos serviço de manobrista, show pirotécnico, pais e mães de santo que trocam de roupa 2 ou mais vezes durante a festa, os menus cada vez mais sofisticados. As festas (Ajoduns) do Candomblé foram ficando cada vez mais caras, podendo ser comparadas com festas de debutantes, casamentos, bodas de ouros etc. Mas o Orixá não merece tudo de melhor? Bom, primeiro precisamos perguntar aos mesmos o que eles desejam. Claro que nossos Orixás querem sempre o melhor para seus filhos, agora, será que o melhor é tudo isso? Nas festividades deles será que eles estão de acordo com esses, que eu chamo de distúrbios de vaidades?

Acho que o Candomblé melhorou muito em alguns aspectos, hoje a vida está mais fácil, temos mais acesso a bens materiais, a comida ficou mais barata (basta comprovar em pesquisas), temos mais oferta de tecidos e artefatos africanos, o que deixa o Candomblé mais bonito, até aí, eu acho que é bom, nosso povo merece se vestir bem, comer bem, ter uma casa de axé confortável e ter mais dinheiro no bolso. O que tínhamos antes era em sua maioria um povo em condições muito precárias, porque naquela época a população era mais pobre. Com o avanço da indústria nacional, as importações da China e da Índia, a indústria de alimentos produzindo mais, vivemos agora uma era mais abastada.

Os valores cobrados no Candomblé por Iyas e Babas nunca tiveram um padrão, dependia do nome do sacerdote, do cliente, do filho de santo, do que ia ser feito, se estivesse em Salvador, Recôncavo, Rio ou em São Paulo, sempre achei justo esses pagamentos, afinal, muitos sacerdotes de dedicam integralmente aos Orixás. O que está acontecendo hoje é que o Candomblé, devido a tudo isso que citei, alcançou preços absurdos na maioria dos Terreiros, sobretudo os oriundos dos grandes Axés. Tudo se tornou muito caro, e por quê? Para os Orixás ou para mostrar que pais ou mães de santo têm força? É completamente paradoxal o Candomblé sendo uma religião das periferias, da resistência, uma religião que certamente mais de 70% de seus adeptos são pessoas com com poucos recursos econômicos praticar valores altíssimos para um jogo de búzios, um ebó, uma obrigação etc. Sei que muitos acabam não pagando e que no cotidiano existem os filhos que dão seu quinhão com trabalho, mas também sabemos que muitos sequer procuram uma casa de axé por não terem condições de pagarem valores tão altos.

Eu não vou mudar esse comportamento, o que me cabe, é agir de outra forma. Creio que zeladores e zeladoras estão se perdendo, estão esquecendo o Orixá, se preocupam muito como o público vai interpretar a sua casa, do que com a vontade do Orixá.

Festas ricas viraram sinônimo de quem tem Axé, quem é próspero, e assim, de quem tem condições de fazer algo por alguém. Mas, infelizmente o que tenho visto é muita fantasia, é gente pagando altos valores e não recebendo nada, nem mesmo consideração.

Dá para ter uma casa bem estruturada e organizada, da para fazer festas onde os Orixás sejam a principais razões de tudo acontecer, e não valorizar apenas a decoração e todas as parafernálias que andam inventando por aí. Somos humanos e vaidosos, mas a meu ver, podemos colocar o bom senso para funcionar. Não é bom as pessoas pagarem valores altos para financiar festas que estão fugindo muito da essência do Candomblé. Não precisa fazer voto de pobreza, mas está ficando feio, está ficando over, brega e beirando ao ridículo. Candomblé tem que ser Candomblé, seja de casa de "nome" ou de casa mais nova ou mais anônimas.

Marcos de Ode (Ode Kobayò)

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