“É A RAIZ QUE SUSTENTA O TRONCO”

Tradicionalmente ninguém abre um Terreiro de Ketu sem que a sua família de Àṣe participe diretamente da fundamentação ritualística e social da nova Casa. O Bàbálòrìṣà ou Ìyálòrìṣà do fundador prepara todos os assentamentos (que são os fundamentos para os ritos) dos Òrìṣàs, seguindo as tradições do Àṣe. São realizadas as chamadas obrigações a seu Ori e seu Òrìṣà: o Olórí Ẹgbẹ (Ìyálòrìṣà/ Bàbálòrìṣà) recebe Àṣe e geralmente é marcado um Candomblé (Xirê) para sentar o Bàbá ou Ìyá na cadeira (trono), ou seja, dar oficialmente o posto na presença de algumas pessoas do mesmo Àṣe e de outros também, assim como de simpatizantes, familiares e amigos. É como dar uma satisfação à sociedade do que está sendo feito e do que se pretende fazer, para se ter o reconhecimento legítimo das comunidades de terreiros. É também tradição o orukó da Casa (Nome do Terreiro) ser dado pelo Àṣe ao qual o sacerdote (a) pertence. A estrutura física e ritualística do novo Terreiro de Ketu deve seguir as tradições de sua raiz/ matriz, como divindades a serem assentadas, estrutura de barracão, cozinha, quartos de santo, árvores sagradas que serão plantadas (algumas delas deverão ser oriundas de mudas das árvores da Casa da Ìyá ou Bàbá). A forma de se vestir também segue as tradições da raiz: a roupa que os abians, ìyáwós e ègbóns vestem, específicas para homens e mulheres, independentemente das idades biológicas, seguem regras claras da nação Ketu, com particularidades em cada raiz de Àṣe.

As atividades de todo Terreiro de Ketu seguem um calendário litúrgico criado conforme o tempo cronológico (tempo de fundação) da Casa. E seguem critérios tradicionais da nação Ketu; para cada festividade é necessário que se tenha cumprido determinadas obrigações. Por exemplo: Águas de Òsàlà, Fogueira de Airá, Olubajé, Ipeté de Oxum, Ajere de Oya e Ṣàngó e tantas outras, que dependem da tradição de cada raiz. O Àṣe descendente é auxiliado e recebe orientações de culto. Os atos ritualísticos são efetivamente realizados pela primeira vez pela sua matriz, podendo ser acompanhados nos anos seguintes. Um Terreiro de Ketu, mesmo que ainda não tenha um calendário completo estabelecido, tem basicamente atividades como encontros entre os filhos de santo, obrigações internas como Amalá de Ṣàngó nas quartas-feiras, Abadô de Ọdẹ nas quintas, Ebô de Òsàlà nas sextas, reuniões para assuntos sociais e burocráticos do Terreiro e da Comunidade em torno. Podem-se promover ações sociais, obrigações dos filhos de santo, atendimento aos consulentes com jogo de búzios, barcos de iniciação dos abians, encontros com a comunidade de Terreiro para palestras e debates sobre fatos históricos pertinentes às tradições afro-brasileiras, aulas de toques e cantigas, ações de melhorias para o espaço do Terreiro e diversas outras atividades segundo a realidade de cada Casa. O Terreiro Ketu tradicionalmente não realiza sessões e/ ou atendimentos com entidades como Preto Velhos, Caboclos, Povo de Rua e outros, mas é fato que existem Casas que, devido à história religiosa que antecedeu o Terreiro de Candomblé, algumas dessas práticas foram mantidas.

Conforme o Terreiro vai se estabelecendo liturgicamente e a sua comunidade vai crescendo em números, é importante que se crie Ipòs (cargos) para ajudar na gerência da Casa. Vale mencionar que a autoridade máxima do Terreiro é a Ìyálòrìṣà ou o Bàbálòrìṣà. Os Ipòs com seus Oyès (Atribuições) irão auxiliar a autoridade máxima do Terreiro no culto às divindades, nas agendas sociais e burocráticas. Os Ipòs são apontados no jogo de búzios, para determinar a alguém um cargo com o Òrìṣà; já o Oyè (Função) é escolhido pela Ìyá ou Bàbá consoante a aptidão da pessoa e da necessidade litúrgica da Casa. É importante salientar que um Iaô só pode receber um ipò/ oyè após ter completado o ciclo iniciatório, ou seja, após ter suas obrigações de sete anos “arriadas” (odún méje). Isso não faz o Iaô ser Ìyálòrìṣà ou Bàbálòrìṣà, apenas completa o ciclo. Assim, o Omo Òrìṣà (Filho (a) de Òrìṣà) passa a ser tratado como Ègbón (Ègbón = irmão (a) mais velho), passando a ter algumas regalias. Porém, aumenta a responsabilidade com o Àṣe, já que os Ègbóns participam mais ativamente de todas as funções litúrgicas. 

Texto extraído do livro "O Terreiro de Ketu - Autor Ode Kòbáyo"

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