O CANDOMBLÉ DE KETU


 O Candomblé é uma religião brasileira e dividida em segmentos que chamamos de nações. As mais difundidas são: Angola do povo Bantu dos idiomas Kimbundu, Umbundu e Kikongo entre outros; Jeje (DjedJe) dos povos de Fom, Fante, Axante do Reino do Daomé; Ketu e Efon dos povos Nagôs.

Esta obra vai tratar sobre os Terreiros da nação Ketu. Para entender na essência de como é formado um Terreiro (Àṣe), vamos relembrar a história do primeiro Terreiro de Ketu no Brasil. 

Informações orais dos mais antigos do Candomblé baiano indicam que ele foi fundado nas últimas décadas do século XVIII. Algumas versões apontam para 1788 e 1830, na antiga Ladeira do Bercô, atual Rua Visconde de Itaparica, próximo à Igreja da Barroquinha em Salvador, BA. Mas antes de os nagôs fundarem esse Terreiro, frequentavam os cultos dos Gruncis (negros guruncis ou gunces que habitam ainda hoje o norte de Gana e do Togo e falam dialetos gur.), que funcionavam distantes do centro histórico de Salvador, chamado Boa Viagem – atual Vila Militar. 

O Terreiro da Barroquinha, segundo afirmação de pessoas ligadas às Casas de Candomblé antigas, era uma Casa de Airá (Ilê Àṣe Airá Intilé) 1. Foi fundado por três rainhas africanas escravizadas vindas de Òyó e Ketu: Ìyá Detá, Ìyá Kalá e Ìyá Nassô; e dois Babalaôs: Assiká e Bangbosé Obitiko. A partir da Barroquinha foi que as Mães de Santo resolveram dar mais um passo para a organização do que chamamos Terreiro de Candomblé Ketu. Ìyá Nassô (Ìyálòrìṣà Francisca da Silva) resolveu arrendar umas terras do Engenho Velho do Rio Vermelho de Baixo, onde foi fundado o Terreiro da Casa Branca (Ilé Àṣe Ìyá Nassô Oká), primeiro Terreiro de Candomblé Ketu oficializado no Brasil que, ainda hoje, está no mesmo endereço. 

Existem relatos e documentos que comprovam que Ìyá Nassô retornou para a África, mais precisamente para terras de Òyó, para aprimorar conhecimentos do culto dos Òrìṣàs e, de lá, trouxe Ṣàngó e outros Òrìṣàs daquela região. Podemos crer assim que Ìyá Nassô se mobilizava para aprimorar seus conhecimentos sobre as divindades e que a intenção era de fortalecer o culto no Brasil.

Mãe Marcelina da Silva (Oba Tossi) sucedeu Ìyá Nassô, após sua morte. Duas filhas, Maria Júlia da Conceição Nazaré e Maria Júlia Figueiredo, disputaram a cadeira de Ìyálòrìṣà, e coube à segunda (Omo Niké) assumir o Terreiro da Casa Branca, já que ela era a Ìyá Kekeré (Mãe Pequena). Nazaré e alguns dissidentes resolveram então sair e fundar o Terreiro do Gantois em 1849.

Posteriormente, Maria Júlia Figueiredo foi substituída por Mãe Sussu do Terreiro do Gantois (Ìyálòrìṣà Ursulina de Figueiredo). Com a morte desta, mais uma divergência foi criada entre filhas. Conta-se que Sinhá Antônia era substituta legal de Mãe Sussu. Porém, por questões superiores, ela não podia assumir a cadeira de Ìyálòrìṣà do Àṣe e o posto foi ocupado por Tia Massi (Maximiana Maria da Conceição - Iwin Funké). Eugênia Ana dos Santos (Mãe Aninha) e Tio Joaquim (Obá Sanyá), dissidentes inconformados com o resultado, resolveram fundar outro Terreiro, o Ilê Àṣe Opô Afonjá, em 1909. 
Foi dessas matrizes do Candomblé Ketu em Salvador que se originaram milhares de Casas descendentes na Bahia e mundo afora — é o que chamamos de linhagem e de raiz de Àṣe. Um Terreiro de Ketu não é diferente; é fundamentado nessas tradições, descende da Casa Branca, do Gantois, do Opô Afonjá, do Alaketu, da Casa de Oxumarê, do Candomblé da Muritiba…
Muitos Terreiros de Ketu têm influência do Ilê Àṣe Ìyá Nassô Oká (Casa Branca); porém, existem outras vertentes de Candomblé Ketu. Por exemplo, as Casas que descendem do Terreiro do Alaketu (Ilé Maroialaji Alaketu), conhecido como Terreiro de Mãe Olga de Alaketu, fundado por Maria do Rosário (Otampé Ojarô), descendente da família real de Ketu, em 1636 (segundo relatos informais) e em 1858 (documentos oficiais). Também temos a Casa de Oxumarê, fundada por Manoel Joaquim Ricardo, Babá Talabi, entre o final do século 18 e início do século 19.

Texto do livro "O Terreiro de Ketu" de Ode Kòbáyo

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