ALGUNS IPÒS E OYÈS (CARGOS) DE UM TERREIRO DE KETU

 


Abiam (Abíyán – aquele que ainda não nasceu/ chegou): é quem já passou pela “lavagem de conta” e aguarda a iniciação. O Abiã participa de atividades da Casa e ajuda em diversas tarefas que são importantes para o Àṣe. No entanto, por ainda não ter nascido para o Òrìṣà, como o próprio nome diz, não pode participar das ritualísticas do Terreiro. Existem atividades que acontecem em algumas tradições, em outras não: os Abians usam apenas um fio de conta de Òsàlà, as mulheres Abians não dançam na roda no Xirê e Abians não ajudam na preparação dos animais imolados, como depenar aves. 

Afikodé (Aficọdẹ): é um Oyè masculino que cuida do quarto de Oxóssi. Sua função é manter o local dos Odés organizado e preparar os assentamentos e objetos sacros para as obrigações desses Òrìṣàs.

Ajimudá (Àjímúdà): Oyè masculino para o culto a Omulu no Terreiro. Esta função é responsável por todas as obrigações de Omulu.

Akouê (Akòwé): esse Oyè é mais burocrático. É responsável pelas compras do Terreiro, ocupa a gestão da secretaria conduzindo e organizando as documentações e a gestão administrativa e pode também ser responsável pela assessoria de imprensa.

 Alabê (Alágbè): é o chefe dos Ogans e responsável pelos instrumentos musicais e sua manutenção, por ensinar e conduzir os ritmos tradicionais da casa e aprender e ensinar os Orins (cantigas) que serão entoadas nos rituais do Terreiro. Para essa função dos Orins, caso o Terreiro tenha o Oyè de Ìyátebesé, o Alagbe deve se alinhar e se reportar a Ìyátebesé. 

Alagadá (Alágadá): Esse Oyè é o responsável pelas ferramentas de Ogum. É ele quem providencia e supervisiona a confecção das ferramentas e zela por elas, tem a responsabilidade de mantê-las devidamente limpas e preparadas para uso e sacralizações.

Apetebi (Apètèbí ou ìyápètèbí): é um Oyè auxiliar do Bàbálòrìṣà. Segundo Roger Bastide 2 , é a esposa do sacerdote. Devido a isso, ainda que não iniciada, passa a usufruir de certo prestígio na Casa, porém não participa dos rituais do Terreiro. Somente após a iniciação ela poderá ajudar mais efetivamente no que tange à ritualística do Àṣe. O Oyè só pode ser dado a ela após a obrigação de sete anos.

 Apotun (Apótún): Oyè masculino do culto a Omulu ou Ogum, dependendo da tradição de Àṣe;

Aramefá (Aràméfà): Oyè do Ipò que faz parte do conselho de Ọdẹ, conselho composto por seis pessoas (Aràméfàs).

Axobá (Ásógbá ou Ásógbánilé): Oyè masculino do culto a Omulu. É a maior autoridade do Terreiro do culto a Omulu, responsável pela organização e todos os cultos a esse Òrìṣà. Também deve delegar as funções aos demais Oyès do culto a Omulu.

Axogum (Àsògún): Oyè responsável pelo sacrifício dos animais. Geralmente é um filho de Ogum; existem o Apá ọtún Àsògún e o Apá Osi Àsògún, que são os auxiliares de Àsògún. Na ausência do Àsògún, o otún e/ ou osi podem realizar as cerimônias de imolação.

Aworô (Àwòró): Oyê de sacerdote do culto aos Òrìṣàs. Literalmente, “aquele que olha pelo ritual”.

Aiyabá: Oyè feminino relativo à realização da cerimonia de Sàsányìn.

Babalossaim (Bàbálósányin): (1) sacerdote do culto a Òsányin; (2) Oyè masculino responsável por colher as plantas ritualísticas e prepará-las para os rituais.

Babaefun (Bàbá Efun): Oyè relacionado à pintura dos iniciados com efun. Geralmente é um Oyè dado aos filhos de Òsàlà, por efun ser intimamente ligado ao culto desse Òrìṣà.

Babá Isinkú (Bàbá Ìsìnkú): Oyè masculino responsável pelos ritos fúnebres da comunidade de Terreiro.

Babá Ojé (Bàbálojé): encarregado do culto aos mortos.

Babá Onijô (Bàbá onijó): Oyè responsável por ensinar as danças sacras aos neófitos do Terreiro.

Bajumó (Gbajúmò): Ipò masculino dado para alguém que será uma espécie de relações-públicas do Terreiro.

Balogun (Balógún): Oyè importante ao culto de Ogum.

Ebome (Ègbón): título inerente ao iniciado que realiza a obrigação de sete anos de iniciação. Representa qualidade hierárquica no Candomblé. Significa “irmã mais velha ou irmão mais velho” e Ègbón Mi = “minha irmã mais velha ou meu irmão mais velho”.

Ejitatá (Ejitata): Oyè masculino para realizar algumas funções no culto a Omulu.

Elegun (Elégún): nome dado aos que entram em transe mediúnico no Candomblé Ketu. 

Elemoxó (Elémòṣó): Oyè importante nas funções do culto a Òsàgyián.

Equede (Èkéjì): Ipò das escolhidas pelos Òrìṣàs para servi-los. Portanto, são elas que cuidam da segurança dos que estão manifestados, dançam com os Santos, vestem e acordam os Òrìṣàs e, por tudo isso, são chamadas de mães. Não se manifestam com Òrìṣà.

Iabassê (Ìyágbàsé): Oyè feminino responsável (chefe) pela cozinha de santo, pelas comidas litúrgicas e pelas oferendas.

Iadagãn (Ìyádagan): Oyè feminino que possui atribuições relacionadas ao ritual de ìpàdé, o qual realiza juntamente com a ìyámoró. É a ìyádàgan que prepara as comidas rituais que são servidas na cuia. Pode ter duas auxiliares: òtúndagan e òsidagan.

Iaefun (Ìyá Efun): Oyè relacionado à pintura dos iniciados com efun. Geralmente é um Oyè dado as filhas de Òsàlà, por efun ser intimamente ligado ao culto desse Òrìṣà.

Iaebé (Ìyá Egbé): Oyè dado a pessoa que será conselheira da comunidade, auxilia o (a) zelador (a) na gestão da comunidade do Terreiro. Seu correspondente masculino é o Bàbá Egbé;

Iajibonan (Ìyájíbóna) ou Ajibonãn (Ajíbóna) ou Ojùgbònà: Oyè feminino, é quem cuida dos iniciados enquanto estão recolhidos, ensinando-lhes os rituais e regras de comportamento. Ìyá (mãe) + Jí (mover) + bí (empurrar) + ònà (caminho), em tradução livre é “aquela que dá caminho”.

Ialatoridê (ìyálátòrìdé): Oyè feminino responsável por preparar e cuidar dos àtòrìs relativos ao culto de Òsàlà.

Ialaxé (Ìyáláse ou Álásé): é a que conhece e zela pelo Àṣe. Segundo Roger Beniste, “Toda Ìyálórìsà é uma ìyáláse, mas nem toda ìyáláse é uma ìyálórìsà”.

Ialaxó (Ìyáláso): Oyè feminino encarregada de confeccionar, preparar, dar manutenção e cuidar das vestimentas sagradas dos Òrìṣàs.

Ialodê (Ìyá Lodè): Oyè dado a uma respeitável senhora da Casa (Agba), a quem, por idade de santo ou de vida, tem o respeito de todo Égbé. É um título civil (isto é, da sociedade religiosa) que tem admiração e respeito de toda comunidade do Terreiro, iniciados ou não.

Ialorixá (Ìyálórìsà): autoridade máxima do Terreiro de Ketu. Seu correspondente masculino é o Babalorixá (Bàbálòrìṣà).

Iamorô (Ìyámórò): Oyè feminino com atribuições relacionadas ao ritual do Ìpàdé, o qual realiza juntamente com a Ìyádàgan. A Ìyámórò é responsável por carregar a cuia durante essa cerimônia. Ìyá (mãe) + mú (pegar) + orò (ritual).

Ianassô (Ìyá Nasó): Oyè feminino de sacerdotisa encarregada do culto a Ṣàngó.

Iaô (Ìyàwó): é o recém-iniciado no culto. Tal denominação irá acompanhá-lo até os sete anos de Santo. O termo significa esposa, mas é utilizado tanto para homens quanto para mulheres.

Iaquequerê (Ìyá kékeré): mãe pequena. É a Segunda na hierarquia da Casa. Seu correspondente masculino é o Babaquequerê (Bàbákékeré).

Iatebexê (Ìyátebesé): a encarregada de escolher os cantos e de cantar os solos.

Ialabaquê (Ìyálabake): Oyè feminino que tem a atribuição de preparar a alimentação dos iniciados durante as obrigações.

Ia Sirrá (Ìyá Síhà): Oyè feminino responsável por conduzir o estandarte de Òsàlá. Ìyá (mãe) + síhà (em direção a, para o lado de).

Ia Tojuomon (Ìyá Tojúomo): Oyè feminino responsável por cuidar das crianças do Terreiro (Egbé). Ìyá (mãe) + tojú (de olho em) + omo (criança, filho).

Ia Teni (Ìyá Tèni): Oyè feminino responsável pela preparação da esteira das obrigações dos neófitos.

Ipô Beré (Ipò Bèrè): Oyè litúrgico responsável pelas incisões (Abèrès) nos noviços.

Iperi (Yperi): Ipò (Ogan) de Ọdẹ.

Kaueuêo (Kawéo): Oyè relacionado ao culto a Òsányìn. A função especifica desse Oyè é a de colher as folhas ritualísticas para banhos e sacralizações do Àṣe.

Kolabá (Kólábá): cargo do quarto de Ṣàngó. É a responsável por carregar o labá (bolsa de couro onde são guardadas as pedras de raio – èdún àrá).

Mayê (Máiyé): Oyè feminino que auxilia o Bàbálòrìṣà/ Ìyálòrìṣà com os awos do Terreiro (segredos do Àṣe), sobretudo na preparação do Òsù.

Obá (Oba): título do soberano das cidades de Òyó e Adu, Ipò conferido no Candomblé aos guardiões do culto a Ṣàngó. São doze os principais, sendo seis Òtún (da direita) e seis Òsì (da esquerda), podendo cada qual ter até dois substitutos.

Obá Osí (Oba Òsì) Ipò conferido aos guardiões do culto a Ṣàngó que ocupam a esquerda, dentre os doze principais, sendo que cada um poderá ter até dois substitutos. Os Oba Òsì são: 1) Ònàsokùn, 2) Aresà, 3) Eléèrin, 4) Oníìkòyi, 5) Olúgbòn, 6) Sòrum.

Obá Otún (Oba Òtún) Ipò conferido aos guardiões do culto a Ṣàngó que ocupam a direita, dentre os doze principais, podendo que cada um possa ter até dois substitutos. Os Oba Òtún são: 1) Abiódún, 2) Ààre, 3) Àrólú, 4) Tèlà, 5) Òdòfin, 6) Kakamfò.

Ogalá (Ògalá): Oyè que tem as funções de entoar Orins e imolar Igbins para Òsàlá.

Ogan (Ògán): é um Ipò masculino de alguém que não entra em transe. Os ogans são confirmados (a confirmação é o rito para se tornar um Ògán), por isso não recebem todos os preceitos de um Iaô. Os Ogans, tal como as Equedes, não fazem obrigações periódicas de um, três e sete anos, ao contrário dos Iaôs. Também são chamados de Pais.

Ogã Nilú (Ògán Nílù): São Ipòs que tocam e auxiliam o Alabê. Esses cargos também são confirmados; futuramente um Ogã Nilú pode receber o Oyè de Alabê no mesmo Terreiro, quando acontece o falecimento do Alabê da Casa;

Oganlá (Ògàlà): é um Oyè masculino responsável pela imolação dos animais de Òsàlá.

Ojú Obá (Ojú Oba): Oyè ligado ao culto de Ṣàngó. Sua atribuição é zelar pelos ritos desse Òrìṣà no Terreiro. Significa “os Olhos do Rei”.

Oju Odé (Ojú Ọdẹ): Oyè ligado ao culto de Ọdẹ. Sua atribuição é zelar pelos ritos desse Òrìṣà no Terreiro. Significa “os Olhos do Caçador”.

Oju Omi (Ojú Omi): Oyè ligado ao culto de Osun. Sua atribuição é zelar pelos ritos desse Òrìṣà no Terreiro. Significa “os Olhos das Águas”.

Ologun (Ológun): Oyè masculino, sua atribuição é cuidar da preparação e o despacho dos ebós em seus respectivos ritos e destinos, pode parecer uma função sem status ou importância, no entanto é um engano achar que essa função não mereça nossa atenção e admiração, afinal para tudo no Candomblé existe um começo, meio e fim, as funções só terminam quando todas as etapas estão concluídas e isso significa que o destino certo e da forma correto dos ebós é de extrema importância para o êxito das obrigações.

Olopondá (Olópóndà): Oyè de grande responsabilidade na iniciação no que tange estritamente ao awos do Àṣe (segredos). Esse Oyè está ligado aos processos iniciáticos do Àṣe e ao culto de Ìyámi Òsòròngà.

Olori Ebé (Olórí Ẹgbé): líder da comunidade de Àṣe, Oyè de uma liderança de uma linhagem de Àṣe, responsável por um Terreiro e por todos os Terreiros descendentes.

Oloya (Olóya): Oyè feminino das filhas de Oya, tem como função zelar pelo quarto de Oya e a preparação das obrigações desse Òrìṣà no Terreiro.

Sarepebê (Sárepegbé): Oyè masculino que transmite as decisões Egbè, comunicando entre os Terreiros as festas e formulando os convites. É uma espécie de relações-públicas do Barracão;

Sidagan (Sìdagan): Oyè dado à mais nova (de iniciação) dentre aquelas que auxiliam nos ritos de Ìpàdé;

Sobalojú (Sobalóju): Oyè que também está ligado aos rituais de culto a Ṣàngó ou Omulu;

Olóyè: é aquele que é portador de um título no Candomblé Ketu. É uma forma genérica para tratar uma pessoa que tem um Oyè (Função) na Casa de Àṣe. Um Ègbón pode ter um ou mais Oyès em uma Casa ou, dependendo do Oyè, também em outra Casa simultaneamente, acumulando funções. É importante repetir que o Ipò (cargo) é apontado pelos Òrìṣàs da Casa ou no jogo de búzios, mas a função (atribuições) deve ser dada pelo Bàbálòrìṣà/ Ìyálòrìṣà ou pelo conselho religioso da Casa, formado pelos cargos do Àṣe. Devem ser analisadas a aptidão da pessoa, a personalidade, a disponibilidade de tempo. Por exemplo, uma pessoa que viaja demais será muito ausente no Àṣe; se o Oyè exige uma presença mais assídua, será complicado a essa pessoa exercer suas responsabilidades. Isso evita desgastes e ineficiência no Terreiro. Alguém de temperamento muito forte, por sua vez, pode causar sérios problemas de convivência com os membros se estiver ocupando alguns Oyès. Por isso é importante analisá-la durante um tempo antes de efetivamente dar-lhe o Oyè.

Comentários

Postagens mais visitadas