A COZINHA DOS ORIXÁS

Ilé Idáná Òrìṣà

O Ilé Idáná Òrìṣà (Cozinha do Santo) é um dos locais mais importantes da Casa. É nela que são preparadas as comidas dos Òrìṣàs, os adimus (elementos que transformam absorvendo), os ebós das obrigações, a comida que alimenta os membros do Ẹgbè, etc. Mesmo com os fogões a gás ocupando cada vez mais as atividades da culinária de Terreiro, é imprescindível ter um fogão a lenha, mesmo que pequeno, pois existem comidas votivas que necessariamente devem ser preparadas assim, além da importância das cinzas, que ficam no fogão para algumas obrigações que serão utilizadas em elementos sagrados do awo (segredos) no Àṣe. A cozinha deve ter um bom espaço físico, já que várias pessoas trabalham simultanea e intensamente nela durante as funções do Àṣe; e também é importante ter espaço para a organização dos utensílios. No Ilé Idáná devem ser assentadas uma ou mais divindades relacionadas e também deve-se receber culto de tempos em tempos. O ato de comer (Ise ti Jije Ounje) no Candomblé é o que nos une e nos transfere Àṣe. É no alimento que preservamos nossa cultura de tradições. É uma alimentação de energia para o corpo físico (àrá) e espírito (èmí). Quase todas as obrigações do Candomblé iniciam e terminam na cozinha: desde a preparação de acaçás (àkàsà), ou eko (massa de milho branco triturado ao ponto de farinha), à finalização dos Àṣes dos animais imolados. Todas são de extrema importância para os ritos do Terreiro. Na cozinha deve-se ter concentração e comportamento cerimonial em concordância com as tradições do Àṣe. Todos com alguma função na cozinha precisam estar adequadamente vestidos, não se pode fumar, ingerir bebida alcoólica, falar alto, falar palavras chulas, fofocar… Cozinha de Terreiro é sagrada. Evidentemente a cozinha da Àṣe deve ser limpa, organizada e deve estar pronta para funcionar a qualquer momento; uma cozinha de Àṣe em ação é vida para a Casa e para toda sua comunidade.

A seguir algumas das comidas preparadas para os Òrìṣàs (Onje Òrìṣà). 

Abadô (Àgbàdo): milho branco, milho vermelho, milho amarelo, espiga de milho, sabugo de milho e cabelo de milho. Todo derivado desse grão é utilizado na culinária dos Òrìṣàs. Pode ser cru, cozido ou torrado. Serve tanto para comida de santo quanto para diversos ebós. As folhas do milho também são utilizadas, sobretudo para banhos de prosperidade.

Abalá (Àbàlá): pudim de arroz.

Abará (Àbàrà): comida preparada com a massa de feijão fradinho enrolada em folhas de bananeira desidratadas, cozida no vapor.

Aberém (Àbèrèn): feito à base de milho verde ou arroz branco moído. Como o abará, deve ser enrolado na folha de bananeira desidratada e cozido no vapor.

Acará (Àkàrà): feito à base de feijão fradinho descascado e moído batido com água, camarão seco, cebola ralada e sal, frito no azeite de dendê em formato de bolas quando são oferecidos para Oya.

Acaçá (Àkàsà): essa comida é uma das mais importantes no Candomblé. É preparado com milho branco moído (farinha) e cozido em água. Quando estiver como um mingau, é enrolado em folhas de bananeiras no formato adequado para a obrigação e de acordo com a tradição da Casa. A massa do Acaçá é chamada de Ekó. Pode estar em um tabuleiro ou ser enrolado; quando está no tabuleiro, ele representa a coletividade e quando está enrolado na folha, representa o corpo individual.

Adalú de Egun (Àdàlú Égún): cozimento de vários tipos de feijão, milho vermelho e milho branco em água pura, para depois escorrer e servir frio sem temperos.

Adimú (Adimú): Comida seca. Qualquer oferenda a uma divindade, sem uso de sacrifício animal.

Adô (Ado): comida preparada com milho vermelho torrado.

Ajabó (Àjábó): feita com quiabo cru, com água e mel.

Aluá (Aluá): bebida preparada com milho fermentado em água com rapadura (ou açúcar mascavo) e gengibre ralado.

Alupaidá (Àlùpàyídà): erva chamada língua de galinha refogada e temperada. Um dos pratos servidos para Ṣàngó.

Amalá (Àmàlà): preparada com quiabo cozido refogado com cebola ralada, camarão seco pilado, azeite de dendê. Pode ter rabada e peito de boi. É feito um pirão de farinha de inhame, de mandioca ou milho branco (Ebá).

Amendoim (Èpà): preparado com amendoim descascado servido cru para Ọdẹ.

Arroz doce de Nàná (Irési Dídùn): preparado com arroz branco cozido em água até ficar empapado, adiciona-se mel no final.

Axarô (Àsàró): mingau de farinha de inhame.

Axoxô (Àsòsò): preparada com milho vermelho cozido em água, com fatias de coco maduro enfeitando por cima do milho.

Banana frita (Ògèdè wúrà díndín): banana ouro inteira, frita no dendê para Òṣùn.

Batata doce (Òdùkún): batata doce cozida amassada e refogada em azeite de dendê, camarão seco e cebola ralada.

Batata doce de Yewà (Òdùkún dídín): batata doce cozida cortada em fatias redondas e frita no dendê.

Batetê (Bàtètè): comida de Ọdẹ preparada com feijão fradinho torrado.

Bobó de inhame (Bobo Ísu): preparado a partir de inhame cozido e temperado com cebola ralada, camarão seco, gengibre, dendê e sal.

Bolinho de Exú (Ìsù Èṣù): preparado à base de angu temperado com sal e pimenta, frito em bolas no azeite de dendê.

Broto de bambu (Omo Oparun): oferecido a Oya, é preparado com brotos de bambu aferventados, feijão fradinho cozido e refogado com dendê, cebola ralada e camarão seco.

Cabrito frito (Ewúré Díndín): para Omulu/ Obalúwáiyé, carne de cabrito temperada com camarão seco, cebola ralada e frito no azeite de dendê.

Carne de porco (Elédè Díndín): para Omulu/ Obalúwáiyé, carne de porco frita no azeite de dendê.

Caruru (idioma bantu): comida oferecida a Ibéjì preparada com quiabo cortado em rodelas bem finas, refogado com dendê, camarão seco pilado, cebola ralada e sal com carne de frango desfiada dos frangos sacrificados. Após refogado, acrescenta-se um pouco de água para cozinhar, um pouco de amendoim e castanha pilados. Com esse prato, serve-se o àkàrà.

Dandoró (Dandoro): preparado à base de feijão fradinho para Nàná. Deixar o feijão de molho na água durante a noite, descascá-lo e levar ao fogo para cozinhar. Escorrer e separar a água do cozimento em outra panela. Refogar camarão fresco sem casca no azeite de dendê com cebola ralada e pó de camarão seco, colocar o feijão cozido e acrescentar a água do cozimento. Deixar ferver até desmanchar.

Dengue (Dèngé): papa bem rala feita de farinha de milho branco cozida em água.

Dodô (Dòdò): banana ouro frita no óleo de coco, oferecida a Òsùmàrè.

Dundú (Dúndú): inhame frito em azeite de dendê.

Eboyá (Ègbo-ìyá): comida de Yemoja, preparada com milho branco cozido e refogado no azeite de dendê com camarão seco e cebola ralada.

Ekurú (Èkuru): massa de àkàrà enrolado em folha de bananeira e cozido no vapor.

Eran peterê (Eran Pétéré): preparado com miúdos de boi (bucho, bofe, coração, fígado, pulmão e rins) refogados no azeite de dendê com camarão seco pilado, cebola ralada, pimenta e sal.

Farofa de abará (Pàdé Àbàrà): preparada com o àbàrà desembrulhado e esfarelado até que se torne uma farofa. É oferecida ao Òrìṣà Èṣù.

Farofa de Ewá (Pàdé Yewà): feita com feijão fradinho cozido em água e escorrido, refogada no dendê com camarão seco e cebola ralada. Adicionar farinha de mandioca crua e misturar bem.

Farofa de Omulu (Pàdé Omulu): preparada com farinha de mandioca crua, pilada com açúcar mascavo e amendoim torrado e descascado até que vire uma farofa.

Feijão de Jagun (Èwà Jagun): preparado com feijão preto cozido refogado no azeite de dendê com camarão seco pilado e cebola ralada, colocar bifes de carré fritos no dendê por cima do prato.

Ibeté de Exú (Ìbètè Èṣù): preparada com farinha de arroz cozida com água e sal até virar uma papa, depois colocar junto com uma farofa de dendê e carnes cruas dos animais sacrificados.

Inhame no dendê (Ísu Epo): preparada e oferecida a Èṣù. Inhame cozido e refogado no dendê com cebola ralada, pimenta da costa e sal.

Inhame de Ogum (Ísu Ògún): cozinhar ou assar o inhame inteiro. Descascar, temperar com dendê e/ ou mel e espetar 21 ou 42 taliscas da folha de mariwó.

Inhame pilado (Ìyán): Inhame descascado, cozido e pilado, temperado com mel. Esse prato é oferecido para ÒsàgÌyán.

Ipeté (Ìpètè): preparado com inhame cozido e pilado, temperado com azeite de dendê.

Jiló (Ìgbá díndín): jiló fatiado frito no dendê e oferecido a Ìrókò.

Lapatá (Lápàtá): preparado com massa de feijão fradinho temperado com camarão seco, cebola ralada, fritar no azeite de dendê.

Latipá (Látipá Adùn): feita à base de folhas de taioba, mostarda ou língua de vaca. Cozinhar as folhas em água até que fiquem macias, refogar em azeite de dendê, camarão pilado e cebola ralada.

Manjar de Ewá (Dídùn Yewà): oferecido para Yewà, o manjar é um mingau de amido de milho, leite de coco e canela.

Melão de Logunède (Ègúsí): melão amarelo cru. Fazer um corte no tampo, retirar o miolo das sementes e rechear com arroz branco cozido em água.

Milho de Oxumarê (Àgbàdo Òsùmàrè): preparada com milho cozido e moído, posteriormente misturado com azeite de dendê e embalado em folhas de bananeira.

Okasseô (Okaseó): preparada para Ṣàngó com a carne do Àjàpá sacrificado, temperado com sal, coentro e cebola ralada, posteriormente moída para fazer bolinhas que serão enroladas em folhas de bananeira e cozidas em banho-maria. Depois são colocadas no casco do Àjàpá.

Olelê (Olèlé): feita com canjiquinha (milho vermelho moído), coco fresco ralado e leite de coco. Cozinhar até ficar bem cozido, enfeitar com fatias de coco e servir em oberó para os Ọdẹs.

Omolokun (Òmòlòkún): comida oferecida para Òṣùn e Yewà, preparada à base de feijão fradinho cozido, escorrido, depois refogado com cebola ralada, camarão seco pilado e dendê.

Ovo de casca azul (Eyn dúdú): representa o “sangue preto”, relacionado à escuridão, às profundezas da terra e dos mares.

Ovo de casca vermelha (Eyin Pupa): representa o “sangue vermelho”, associado ao fogo e ao poder criador.

Ovo de casca branca (Eyin funfun): representa o “sangue branco”, relacionado a renovação e a explosão de luz.

Ovo de pata (Eyin Pépéiye): representa grande vitalidade e força, afastando iku e àrùn. Muito utilizado em ebo para saúde e para atrair vitalidade.

Ovo de galinha (Eyin Adìe): tem poder de limpar energia negativa e de transformar, renovar e trazer abundância.

Ovo de codorna (Eyin Àparò): neutraliza feitiços, é utilizado também cru para passar no corpo e em oberós com água para limpar ambientes. Esse ovo também tem um grande poder de fertilizar os negócios de comércio e prosperar a vida do Terreiro.

Ovo de galinha d’angola (Eyin Etù): atrai boa sorte, sucesso e prosperidade.

Ovo de pomba (Eyin Eiyelé): promove paz, harmonia e tranquilidade para pessoas e ambientes.

Papa de arroz (Èbà Ìrésì): cozinhar farinha de arroz com água e leite de coco, mexer até que fique bem papa.

Papa de banana (Èbà Ògèdè): fazer uma farinha de banana de São Tomé ainda verde e preparar uma papa com água.

Peixe de Nanã (Bagirí Nàná): temperar bagres com coentro, cebola ralada e sal, fritá-los temperados no azeite de dendê.

Pirão de milho (Èbà Àgbàdo): preparado com milho verde ralado. Cozinhar com um pouco de água até virar um pirão, colocar um pouco de sal e enfeitar com fatias de coco e oferecer para os Ọdẹs.

Sopa de pedra (Odè Òkúta): preparada com feijão fradinho triturado e descascado, temperada com camarão seco pilado, cebola rabala, sal, gengibre, pimentas, azeite de dendê e água. Cozinhar todos os ingredientes com doze pedras arredondadas, mexer até engrossar o caldo. Forrar a gamela com folhas de taioba ou língua de vaca e colocar àkàsàs brancos desenrolados e a sopa por cima.

Xinxim (Sinsin): preparada à base de galinha do sacrifício refogada com cebola ralada, camarão seco pilado e dendê. Adicionar leite de coco, gengibre, amendoim e castanha de caju pilados.


Texto extraído do livro "O Terreiro de Ketu - Autor Ode Kòbáyo"

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