A IDENTIDADE DE GÊNERO E O CANDOMBLÉ


Chegar ao Àiyé em um corpo que não reflete a identidade de dentro não é novidade. Nossos irmãos e irmãs transexuais — como também os travestis que há décadas frequentam os Terreiros — sempre existiram. São presenças reais, que vivem, sofrem, celebram e cultuam ao lado de todos nós. E fingir que essa realidade não nos diz respeito seria não apenas injusto, mas perigoso para a própria coletividade do Àṣẹ.


O Candomblé é feito de escuta, de caminhos percorridos em silêncio e de verdades reveladas pela natureza e pelos Orixás. Porém, também é uma religião que tem fundamentos sólidos. O masculino e o feminino são condições essenciais para muitos orôs — seja no animal, na folha, nos ciclos da vida. É essa organização simbólica e ritual que mantém vivos os mistérios e os pactos sagrados que nos ligam ao Òrun.


Por isso, é preciso dizer com clareza: manter os fundamentos não é falta de amor, nem é exclusão. É proteção do próprio Candomblé. É o cuidado com o sagrado para que os ritos continuem a existir e a fazer sentido. O que seria do nosso culto se, em nome de uma ideia de progresso, abríssemos mão daquilo que sustenta a força do nosso Àṣẹ?


Mas também é preciso dizer com igual firmeza: exigir que uma pessoa trans negue sua identidade dentro do Terreiro é negar a ela o direito de existir plenamente. É transformar o espaço do acolhimento em um espaço de dor. Isso, sim, é inaceitável.


Por isso, o diálogo é urgente. Não se resolve com ignorância nem com imposições. Requer maturidade, estudo, vivência, responsabilidade e sobretudo afeto. É tempo de olharmos para esse desafio com coragem — não para destruir ou reinventar o Candomblé, mas para que ele continue sendo vivo, verdadeiro, coerente e justo.


Fundamento se preserva com sabedoria.

Pessoas se acolhem com amor.

Marcos de Ọdẹ

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